quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Depoimento por Gabriela Santos, deficiente visual

Bom dia doutor Pedro! Tudo bem?
Estou muito feliz! Meu coração está pulando de alegria! Eu hoje posso dizer que me conheci. Nos últimos dias, me dediquei muito ao meu autoconhecimento, Vamos ver o resultado:

Meu nome é Gabriela, tenho 23 anos, nasci no dia 18/12/1993, em Fortaleza, Ceará. Sou deficiente visual, eu nasci com baixa visão, vendo só pelas laterais. E com quinze anos eu a perdi total.

Sou cega e sou feliz, me amo e me aceito como sou. Não tenho um
pingo de inveja de quem enxerga, porque conheço muita gente por aí que tem a visão perfeita, mas que não enxergam nada. Detesto quem fica me olhando como se eu fosse uma coitadinha.Cegueira pra mim não é desgraça, meus olhos são minhas mãos.

Gosto muito de ler, escrever, cantar, dançar, atuar, assistir televisão, ouvir música, navegar na internet, ir à praia, fazer caminhada, meditar, comer fora, aprender coisas novas.Não gosto de gente que fica me tratando como se eu fosse uma bebê ou incapaz, gosto que me ensine e deixe eu fazer as coisas.

Ao mergulhar na história de vida de Hellen Keller, veio, em minha
memória, as coisas que eu gostava de fazer antes de conhecer (fala de um grupo no passado que lhe fez mal).

A sensação que tenho é de ter tirado um peso de cima de mim, de meu coração, e que ele estava lotado de coisas. Mas agora está limpo, tudo está no seu devido lugar, minha casa interior está arrumada.

Já posso dizer que renovei minha alegria de viver. O desejo de sonhar! De acreditar! De me amar. Eu me amo como sou!!! Como é bom poder ser eu mesma! Sem máscara! Sem estar presa a nada, livre, leve, solta!

Tudo isso me lembra uma música que eu gosto e traduz exatamente o que estou sentindo agora: quando escuto ela, imagino que estou correndo na praia, com os braços abertos, sentindo o vento na cara e eu gritando: "Eu sou livre! Eu sou livre! Eu estou livre! Eu estou livre!”

O cativeiro foi quebrado!


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Depoimento por:
Gabriela Santos, deficiente visual, 23 anos, de Fortaleza, Ceará.
Nome fictício para preservar a identidade, mas com história real.