segunda-feira, 27 de abril de 2020

Por quê é tão difícil ouvir Críticas?



Uma cliente me mandou a pergunta que abre esse texto, comentando uma série de comportamentos defensivos que ela tem após receber uma crítica. Decidi escrever esse texto para responder a ela e quis compartilhar com vocês também.

Na verdade dói em mim também, profundamente, quando recebo uma crítica. Demora um tempo para cada pessoa conseguir processar a informação e integrar o que pode ser tirado de bom e o que não serve do que foi apontado na crítica.

Primeiro aspecto: nossa relação com a pessoa que fez a crítica. Quanto mais temos uma expectativa de agradar essa pessoa, mais a crítica é dolorosa. Devemos observar essa expectativa e o quanto ela as vezes é pesada e irreal. Cobramos muito da gente mesmo e isso nos faz mal. Devemos respirar nessa dor e acolher quem nós somos neste momento, pois só conseguimos ser o que somos.

Ao nos acolher, podemos olhar para o que é possível melhorar e desenvolver em nós. Quando não nos acolhemos, recorremos aos atalhos, às fugas, é quase qualquer coisa pode servir para isso: álcool, drogas, remédios, religião, entretenimento, eletrônicos, sexo, tudo isso vivido na superficialidade do ego e sem a profundidade de alma.

O segundo aspecto da crítica é a competência moral da pessoa que faz a crítica. Por exemplo: uma pessoa que demonstrou em diversas situações ser desequilibrada emocionalmente exige de você ser mais equilibrada, isso pode gerar uma série de sentimentos ruins como o ressentimento. Assim, devemos, com o esfriar dos ânimos, aprender a separar que parte da crítica realmente é sobre nós e que parte da crítica é apenas uma projeção do outro, ou seja, incapaz de lidar com suas próprias emoções o outro projeta em nos seus medos, cobranças, ansiedades, raivas, sentimentos negativos e reprimidos. Neste caso, devemos fazer um exercício, dizer mentalmente repetidas vezes para o outro: deixo com você o que é seu, fico com o que é meu.

Devemos também perceber que muitas vezes são projetadas em nós cobranças de uma adaptação externa indevida: aquele dream consumista de que devíamos ter uma boa casa, carro, emprego, relacionamento, etc, e se não o temos é por que somos (aí vem a projeção: egoistas, negativos, desorganizados, preguiçosos, etc). Nesse ponto faço uma leve alusão ao fato de que vivemos numa sociedade excludente e de fortes desequilíbrios econômicos, mas cabe a cada um procurar o seu caminho frente às adversidades externas.

Outro aspecto, acho que é o terceiro: nós temos o instinto de viver em grupo. As vantagens evolutivas do ser humano na natureza são o grupo e o uso de instrumentos através de sua engenhosidade, inteligência. No nosso eu biológico está profundamente inscrita a necessidade de pertencer ao grupo, e a crítica ou qualquer forma de rejeição, abandono é sinônimo de morte, pois ser abandonado pelo grupo é o mesmo que morrer. Essa relação se reflete na história individual entre mãe e bebê, não ser cuidado ou ser abandonado é o mesmo que morrer. Claro que isso é uma verdade mais profunda na nossa mente, pois muitas vezes mesmo o bebê abandonado é acolhido pela sociedade ou adotado ou pela avó ou tua por exemplo (mais uma vez o grupo).

A quarta e última reflexão sobre a crítica é a ideia de que no nosso inconsciente infantil, que está presente em todos nós, na nossa criança interna, temos o desejo (infantil) de sermos completamente amados, completamente acolhidos, independente do que somos ou fazemos. Isso inclusive é utilizado como propaganda em vários momentos da cultura. Também é decorrente do instinto e desejo de pertencer. Quando qualquer coisa ameaça esse desejo de sermos totalmente amados, essa mentalidade infantil, que funciona no tudo ou nada, faz com que sintamos totalmente odiados ou não amados, o que obviamente não é verdade mas é uma verdade profunda no nosso eu emocional. A solução para este último aspecto é aprender a acolher nossa criança ferida e a nos amar como nós somos.

Para concluir, convido fazermos da crítica uma oportunidade, uma chance para mergulhar nas nossas profundezas e abraçar nosso sofrimento, abraçando também nosso verdadeiro eu. Dentro de nós existe uma fonte profunda de sabedoria e de amor, que só pode ser descoberta ao acolher o pior em nós. Dentro de nós existe o céu e o inferno, a sombra e a luz.

Por último uma dica prática: sugiro fazer em meu canal uma meditação: 
Sugiro você sentir qual a que mais combina com esse momento.

1. de cura da criança interna 
https://www.youtube.com/watch?v=mK5ZC0poJu8

2. de perdão ou 
https://www.youtube.com/watch?v=_AH9rJ7UitM

3. de limpeza emocional. 
https://www.youtube.com/watch?v=dC2wXsUCyA0






Att, Pedro Possidonio.
Psicólogo e Terapeuta.



Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:





*Instagram: @pedropossidonio.psi


Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email:

Ou através do WhatsApp:

(85) 9.9688.8876.

domingo, 26 de abril de 2020

Do medo ao Amor


O amor verdadeiro quando surge deve ser um terror para o ego. O maior medo do nosso eu menor é morrer, deixar de existir. Ele se imagina sendo dissolvido na torrente de amor do verdadeiro ser amoroso que habita dentro do coração.

Quando o encontro acontece, esse espaço interior ameaça se abrir, é isso para o eu menor é um pavor, deve ser terrível. Afinal foram anos de trabalho levantando barreiras para não sofrer, e me chega esse tal de amor querendo destruir tudo?!

Mas como o amor é uma dimensão que está dentro de nós e entre nós, ele vai se aproximando mesmo sem ser chamado. Ou será que no mais íntimo chamamos por ele sem perceber? O fato é que ele nos convoca, nos chama, e aos pouco vai derretendo as defesas do eu para encontrar conosco num grande abraço ou num olhar ou até mesmo num trocar de palavras.


***

Tem uma metáfora que é a de Jonas, em um livro chamado caminhos de realização, dos medos do eu ao mergulho no ser. O próprio título é poético. Jonas diz não para a voz do amor que o chama, mas ele a renega. É engolido por um ser da escuridão até que passa por um processo interior onde aprende a se reencontrar com seu caminho, aprende a dizer sim para a vida, dizer sim para o que o amor quer realizar em sua vida...

Nunca sabemos quando nem onde vamos o encontrar, mas ele está sempre nos conduzindo até descobrirmos o melhor em nós...


Att, Pedro Possidonio. 
Psicólogo e Terapeuta.




Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:







*Instagram: @pedropossidonio.psi





Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email:  pedropossidonio.psi@gmail.com

Ou através do WhatsApp: (85) 9.9688.8876.



sexta-feira, 24 de abril de 2020

Desenvolver o Amor entre nós



Dentro de nós existe um estado de silêncio que pode ser chamado estado de meditação, mas pode ser chamado pela ideia de presença amorosa também.

Tudo que fazemos com presença amorosa desperta esse estado, de conexão com o nosso verdadeiro Ser, o Si mesmo ou Self de Jung. Amar alguém também é uma forma, assim como estar com quem se ama.

É uma caminhada treinar essa presença amorosa.

A palavra desenvolvimento é interessante porque pode ser usada nesse sentido: Des-envolver, quer dizer, tirar os véus, os véus do ego, do apego, da ilusão, do sofrimento.

Nosso processo de evolução no amor pode ter essas duas metáforas:

Uma é a de que não o temos, a não ser como uma semente, e as transformações da vida servem para cultivar e fazer crescer. Carl Rogers fala que temos em nós uma tendência atualizante que busca a vida, assim como batatas num quarto escuro buscam uma única freara de luz ficando estiolada, a vida em nós procura sempre o meio de se fazer crescer.

Outra é essa de que já temos toda a fonte de amor e de todos os recursos dentro de nós, mas precisamos fazer um polimento interno das várias dimensões de ego, sombra e sofrimento, para aprender a se conectar com o Ser, com o amor. Daí, estar com a pessoa com quem cultivamos o amor juntos é uma forma de um apoiar o outro nessa jornada.

Tanto um serve de projeção da sombra do outro, dos defeitos, das raivas, mas também da beleza, do encanto, da poesia, da paixão, do amor, da inspiração, do apoio, do carinho, do compromisso de estar juntos nessa caminhada rumo à descoberta de nós mesmos.


Att, Pedro Possidonio. 
Psicólogo e Terapeuta.

Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:


*Instagram: @pedropossidonio.psi


Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email: pedropossidonio.psi@gmail.com


Ou através do WhatsApp: (85) 9.9688.8876.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Sobre a Presença Amorosa



Nesses dias eu estava refletindo sobre a ideia da presença amorosa, de a gente sentir dentro de nós uma fonte de amor que nos acompanha quando estamos nas melhores companhias ou até quando estamos sozinhos. Eu sinto que é sobre respirar fundo e sentir que existe um amor, uma aceitação, um acolhimento que pode brotar aqui quando buscamos desenvolver um olhar amoroso sobre os processos que estamos desenvolvendo em nossas vidas.

Muitas vezes olhamos para a gente com um olhar crítico, descrente, amargo, a gente se cobra muito né? A reflexão passa pela ideia de como a gente pode se surpreender ao perceber que verdadeiramente pode se amar e q não importa o q aconteceu antes na nossa vida, o que importa é daqui pra frente, abraçar os nossos defeitos e junto com nosso melhor procurar viver o que a vida tem de melhor a oferecer. Ao mesmo tempo nesse espaço de presença amorosa a vida sempre trás o melhor, podemos ter confiança no que virá porque tudo ocorre para esse melhor.



Att, Pedro Possidonio
Psicólogo e Terapeuta
Atendimento presencial e online
WhatsApp (85) 99688.8876



Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:












*Instagram: @pedropossidonio.psi










Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email: 




Ou através do WhatsApp:


(85) 9.9688.8876.


quarta-feira, 22 de abril de 2020

A arte do equilíbrio nos relacionamentos



Um casal de equilibristas ganhava a vida através de seu talento, ele mantinha sobre a cabeça uma haste flexível, ela ia subindo e se equilibrando enquanto ele, atento, continuava andando... Assim impressionavam as pessoas com sua arte e ganhavam as moedas que lhes ofereciam por onde quer que passassem...

Olhando nos olhos da amada ele disse um dia: e se passarmos a prestar mais atenção um no outro para que, assim possamos nos amar e nos cuidar mais e garantir nossa arte e nosso sustento com segurança para ambos? Assim, ao menor sinal de erro ou de perigo, podemos nos ajudar e nos cuidar mais ainda no decorrer de nossos dias...

Sentindo a intenção amorosa daquelas palavras, a jovem atenciosa disse para seu amado: melhor continuarmos nos cuidando e dando o nosso melhor prestando a atenção correta a nós mesmos, eu cuidando de mim e de meu equilíbrio e você de você e do seu equilíbrio, pois ao desviar de mais o olhar para o outro podemos acabar esquecendo o mais importante, que o que alimenta nossa arte é a base de equilíbrio que existe em cada um de nós. É assim que, nos cuidando, podemos continuar alimentando e sustentando nossos dias e continuar nos amando.


***

A história ou conto é uma metáfora terapêutica que serve para ilustrar a ideia de equilíbrio em um relacionamento. Pode ser adaptada para falar de amizade ou relacionamento terapêutico, mas aqui vamos usar no sentido de relação de casal mesmo e abordar os temas co-dependência , equilíbrio, solitude e papel dos relacionamentos.

Co-dependência é um tipo de relação onde o amor é o equilíbrio são substituídos poriam estrutura de apego semelhante a um vicio. Ao invés de o outro ser parte importante que acrescenta em minha vida, ele passa a ser o centro e o único motivo pelo qual vivo.

Já em desequilíbrio, este tipo de relação pode manifestar uma série de sintomas como brigas, violência física, traições, entre outros. Mesmo assim, numa situação de violência por exemplo, a pessoa não consegue se dar conta de que a relação é tóxica e permanece nesse tipo de situação adoecedora.

Quando termina uma relação dessa, a pessoa em co-dependência sofre muito pois perdeu o que achava ser o centro de sua vida. No equilíbrio saudável, o outro é sempre parte, acrescenta a minha vida, e mesmo que a perda doa, ela não é desestruturante. O rapaz de nossa história tenta colocar a moça numa posição de dependência, mas ela inteligente consegue por a relação em uma posição de equilíbrio.

Outro tema importante no quesito relacionamentos é a questão da solidão e da solitude. Quando a solidão nos incomoda, quando foi estar só, provavelmente estamos sendo uma má companhia para nós mesmos.

Em contraste com esta solidão que é vazia é angustiante, há o tema da solitude, um tipo diferente de solidão com plenitude, na qual aproveitamos a solidão para cultivar os nossos dons e talentos, nossas virtudes artísticas e culturais no sentido da Sublimação psicanalítica.

Assim, aproveitando a solidão para praticar a leitura, a poesia, a música, o desenho, a pintura, a dança, para cultivar a criatividade e a arte, transformamos a solidão em solitude. E assim, sendo uma boa companhia para nós mesmos, formamos uma base a partir da qual podemos viver melhores relacionamentos.

Concluiremos esta interpretação abordando um pouco sobre o papel dos relacionamentos. Através dos encontros, das relações, descobrimos e desenvolvemos dimensão mais profundas de nós mesmos.

O outro sempre funciona como um espelho, para sentimentos positivos que temos dificuldade em experimentar sozinhos, e para sentimentos negativos que as vezes estão nas dimensões interiores traumáticas que não temos consciência.

Sem consciência e autoconhecimento, os relacionamentos acabam sendo palco de projeções Inconscientes, um caldeirão de sofrimentos. A cada experiência, no entanto, podemos ficar mais conscientes, e os relacionamentos podem ser uma chave para nossa evolução.

Quando cada um cuida de si, no entanto, cuidando de seu próprio equilíbrio como a moça de nossa história, podemos viver relacionamentos mais saudáveis, mais verdadeiros e mais presentes.



Att, Pedro Possidonio
Psicólogo e Terapeuta
Atendimento presencial e online
WhatsApp (85) 99688.8876




Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:












*Instagram: @pedropossidonio.psi










Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email: 




Ou através do WhatsApp:





(85) 9.9688.8876.

terça-feira, 21 de abril de 2020

O Mistério do Real



Era uma vez um poderoso rei e seu filho, o príncipe. Quando este atingiu a idade de viajar pelo mundo o pai o chamou e disse: aproveite a viagem , só te deixo um alerta: não existem ilhas, não há princesas, não existe Deus. Não vá deixar ninguém te enganar.

Quando estava a algumas milhas viajando em seu barco, no entanto, o príncipe viu grandes aglomerações de terra com maravilhosos bosques e florestas e, em cada uma delas, seres misteriosos e belos dos quais não se arriscava a dar nome. Parou em uma daquelas terras que se erguiam no oceano e encontrou um senhor, vestido com um manto belo como a noite, ao qual resolver perguntar:


-o que são estes montes de terras?
-são ilhas, respondeu o sábio.
-não pode ser!?! E aquelas criaturas misteriosas? Oque são?
-são as mais belas princesas,
-como isso é possível? Antes de iniciar minha jornada meu pai me avisou que não existem ilhas, nem princesas e nem tampouco Deus... Mas espere? Quem é o senhor?
-muito prazer, sou Deus, respondeu o sábio ao príncipe.



O príncipe ficou assustando, e rapidamente navegou de volta a seu pai, narrou a ele o ocorrido pedindo explicações. Acaso o pai havia mentido?


-espere, disse o rei, como este distinto senhor se vestia?
-com um manto escuro, da mesma cor da noite, disse o jovem.
-está explicado! Tu foste enganado por um mago!


O jovem volta navegando até a ilha em que reencontra o senhor, ao qual desafia:


-agora sei a verdade, e tu não me enganas, tu não passa de um mentiroso mago! Serás punido com a morte por haver mentido ao príncipe!
-espere meu jovem, tens razão! Sou apenas um velho mago. Mas antes de me punir, preciso que saiba que apenas sigo as ordens do mais poderoso mago que há, teu pai, aquele que chamas rei, me ordenou que te dissesse tudo isso, e saiba que aquelas são verdadeiras ilhas, e aquelas são verdadeiras princesas.

Transtornado o jovem navega de volta para casa, conta o ocorrido ao pai, e este, com um sorriso misterioso no rosto arregaça as mangas da túnica real, onde se percebe por baixo uma túnica da mesma cor da noite.


-filho, é isto, eu sou apenas um mago que joga o jogo de ser rei, e usei de todo este artifício para que soubesses a verdade
-mas agora para mim chega, disse o príncipe, eu quero saber o que existe de verdade, para além das ilhas, das princesas e de toda essa magia,
-não existe nada além da magia, sorriu o rei


O jovem pensou um pouco na beleza das ilhas e no encanto da jovem que, entre as princesas mais belas, havia feito bater mais forte o seu coração, e pensou que era possível aceitar a realidade que não há verdade além da magia!



***


Através dessa história, podemos falar da jornada de nossa consciência em busca do esclarecimento. Num primeiro momento, ser confrontados com uma verdade maior do que somos capazes de suportar é um problema. Lacan muitas vezes expressa que a vida é enigma, fazendo referência à dimensão do Real que não somos capazes de apreender completamente, expressa na nossa história como magia.

Curioso apontar que o jovem de nossa história tem a pulsão do conhecer, que se expressa no desejo de viajar e de perguntar sobre as realidades que não entende, buscando assim explicações.

Ao sermos confrontadas com situações que não compreendemos, com os desafios da vida, sofremos o traumatismo que é normal da vida. O jovem da história segue sua jornada até atingir uma nova compreensão, semelhante a uma iniciação, a qual recebe de seu pai, que buscava apresentá-lo ao enigma da magia, representando aqui os desafios, segredos e mistérios da vida.

Ao integrarmos a nova realidade com uma nova interpretação ou nova compreensão, transformamos o Inconsciente em consciente, integramos o traumatismo, atingimos graus maiores de compreensão simbólica.

O pai do jovem, na figura de um mago que representa um rei, é um ótimo exemplo do que Lacan vai chamar de Sujeito suposto do saber, posição que deve ser sustentado pelo analista no início da terapia para que se de a transferência. Não podemos apresentar de cara a magia, o mistério do não saber, o não sentido do Real. Através do conhecimento, da posição de suposta autoridade e experiência, o analista captura o analisando para um processo de autoconhecimento até que este seja capaz de suportar o não sentido.


Att, Pedro Possidonio. 
Psicólogo e Terapeuta.






Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:







*Instagram: @pedropossidonio.psi



Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email: 


Ou através do WhatsApp:
(85) 9.9688.8876.

domingo, 19 de abril de 2020

Sintoma e Teoria de Lacan



Sempre que falamos em Lacan devemos ter em mente que ele se propõe a fazer um retorno à Freud. Uma frase significativa dele no final da vida foi: sejam lacanianos se quiserem, eu sou freudiano. Isso significa que tudo aquilo que falamos para Freud vale para Lacan. O que o célebre psicanalista francês buscava era preencher as lacunas daquilo que o pai da psicanálise havia criado mas, segundo ele, não havia enunciado por completo, não havia se dado conta ou não teve oportunidade de dar continuidade durante seu trabalho. Claro que este ponto é discutível nos meios psicanalíticos, onde muitos apontam que o que Lacan fez foi em outro sentido completamente diferente do de Freud, mas esta discussão foge ao escopo de nosso trabalho.

Para nós importa agora falar das contribuições lacanianas para o desenvolvimento da psicanálise. Iniciaremos pelo conceito de Sinthoma, no qual Lacan faz referência ao grego Symptome, aquilo que cai, significado que faz Lacan apontar que o Sintona deve cair durante a análise. Vale marcar a diferença entre sintoma, iniciando com minúscula, termo idêntico ao de Freud, e Sinthoma ou Sintoma, com s maiúscula, fazendo assim referência ao ganho conceitual de Lacan.

No seminário 23, dedicado ao Sinthoma, Lacan coloca este conceito como sendo uma espécie de amarra que faz com que a estrutura da psique continue enodada em forma de cadeia, impedindo essa estrutura de se tornar uma estrutura paranóica, portanto psicótica, ou seja, a psicose paranóica seria para Lacan a base do funcionamento psíquico, a neurose seria um construção posterior, a nível de emenda, fazendo com que a estrutura borromeana da psique se mantenha unida e continue circulando na cadeia infinita de significantes.



Para acrescentar ao entendimento da teoria lacaniana, vamos esclarecer o que seria o nó borromeano. Esta imagem seria um nó de três círculos fazendo uma intersecção mútua, à semelhança da teoria dos conjuntos da matemática onde os conjuntos X, Y e Z se intercruzariam gerando quatro campos de intersecção entre eles. A imagem é uma figura náutica, o nó borromeano seria um nó de marinheiro idealizado para passar firmeza às amarrações que dela necessitem.




Os três conjuntos que compõem o nó borromeano de Lacan são seus conceitos de Real, Simbólico e Imaginário. Simbólico tem a ver com o registro comum às culturas: o alfabeto, os símbolos matemáticos, a linguagem, as metáforas, histórias, contos, tudo isto que está na cultura e que Lacan chamava de Outro, ao menos uma das definições deste conceito o qual não iremos aprofundar.

O Imaginário é o campo do corpo, do registro sensorial. Inicia com a imagem de nós mesmos que vamos percebendo na primeira infância e aprendendo a associar com o eu. A essa imagem do eu aprendemos a coordenar nossas impressões, percepções, o modo como de maneira mediata percebemos e respondemos ao mundo com nossos sentidos. Corresponde, a título de comparação e entendimento, ao que a Melanie Klein chamava de Imagem Inconsciente do Corpo.

Já o Real é o registro impossível em relação ao imaginário, ou aquilo que não cessa de se inscrever em relação ao simbólico. Sempre nos escapa, nunca podendo ser totalmente entendido ou aprendido, fonte de uma dimensão de estranhamento que nos faz remeter ao conceito de estranho em Freud, ou infamiliar (Unheimlich). O Real é fonte de angústia. Aquilo que não tem sentido nem nunca terá, para relembrar a famosa música.

Na intersecção de Real, Simbólico e Imaginário está o objeto a (autre - outro). Objeto perdido do desejo e causa do desejo. Quando falamos, em Freud, que um dos destinos possíveis da pulsão é sua satisfação direta, ressaltamos que está satisfação nunca é completa, uma parte sempre fica faltando de ser aliviada, sempre permanece como desejo insatisfeito, e é esta parte que Lacan vai nomear objeto a.

Em outro momento referido como A Coisa, jamais apreendida ou com compreendida pelo eu, mas muitas vezes substituídas pelos diversos objetos que o eu elenca como alvos para seu desejo. Uma vez atingidos, como nunca atingimos o Real ou o Objeto a, acabamos apenas por substituir um alvo por outro, um desejo por outro, continuando nisso processo de desejo e de busca, fazendo do ser humano um eterno buscante.

No campo de intersecção entre simbólico e Imaginário temos o sentido. Tanto o sentido que danos ao que falamos quanto o sentido por exemplo do signo 3 que é três. Na intersecção do Real com o Imaginário temos o campo do Outro, ou o gozo do Outro, que pode ser a cultura, o grande Outro inicial que é a mãe, ou a imagem que recebemos refletida quando dizemos o que dizemos, o sentido que para o outro toma o que comunicamos.

Na intersecção entre Real e Simbólico temos o Gozo fálico, outro importante conceito lacaniano. O gozo seria uma espécie de prazer Inconsciente, é o resultado do trabalho do Inconsciente. Prazer que pode ser entendido como alívio por exemplo, diminuição das tensões pulsionais quando se manifesta um sintoma, lapso ou chiste. O prazer de falar um palavrão ou daquilo que fazemos mas não podemos contar para ninguém.

Quando fala de Joice no seminário sobre o Sintoma, Lacan diz que sua arte é um Sintoma, com S maiúsculo, ou seja, a arte aqui atua como uma amarra impedindo o artista de cair numa estrutura psicótica. Assim temos em Lacan uma nova ideia do objetivo da arte para além da Sublimação de Freud.

Para esclarecer ainda mais a teoria de Lacan, vamos agora falar em signo, significado e significante. Signo é a dimensão da imagem que percebemos, a forma que desenhamos o 3 por exemplo. Já o significado de 3 é três, ou three, ou drei. O significado está no campo dos acordos coletivos que fazem uma imagem ser interpretada de uma determinada maneira. As cores verde e vermelha em sinais de trânsito no mundo todo, praticante, indicam que se pode seguir ou que se deve parar, por exemplo.

Já o significante pertence ao campo da associação livre. Uma mesma imagem como um peixe em um sonho pode ter significados diferentes a depender do sonhador, ou até mesmo para o mesmo sonhador em diferentes épocas. Este nível do significado que cada um da e a cada momento, baseado na associação livre, na conexão íntima de sentido para cada um é a dimensão do significante. O professor Paulo Bregantin completa dizendo que signo é significado é p mesmo para todos, já o significante é diferente para cada um, ou seja, torna cada um o que é, é a diferença que faz de nós indivíduos.

Uma das formas de enunciar o objetivo da terapia para Lacan é fazer com que o indivíduo possa deslizar na cadeia de significantes de forma mais fluida, pois a vida é fluida, é mudança. A atitude neurótica é a da repetição. O neurótico se repete, sempre repete em palavras e atos o mesmo movimento, ficando fixado ao seu traumatismo, apegado a uma ideia fixa de si ou da vida. Superar esta insegurança neurótica e se permitir abrir para novos significados é um dos objetivos de amadurecimento da terapia psicanalítica.

Att, Pedro Possidonio. 
Psicólogo e Terapeuta.






Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:









*Instagram: @pedropossidonio.psi










Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email: 


Ou através do WhatsApp:
(85) 9.9688.8876.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Pulsão, Sintoma e Sublimação em Freud



Freud costumava comparar nosso aparelho psíquico com um sistema biológico. Imaginemos um aparelho biológico rudimentar: ele interage com estímulos do meio externo e emite respostas, sempre procurando a homeostase, o equilíbrio. Assim, em consequência dos diversos estímulos do ambiente, nosso aparelho psíquico vai desenvolver diversas respostas. Freud vai utilizar o termo Pulsão (Trieb) como sendo a unidade fundamental de informação nesse aparelho psíquico, o qual vai buscar o equilíbrio encaminhando as diversas pulsões para diversos caminhos.

Pulsão é algo que se formaria, para Freud, na fronteira entre o somático e o psíquico. Para ele, as pulsões são forças constantes que estão sempre empurrando nosso aparelho psíquico, isto causaria um acúmulo, uma sobre-excitação decorrente do excesso de estimulação. Essa estimulação excessiva que se acumula fera desprazer. Por outro lado, quando liberamos os estímulos pulsionais acumulados, temos o prazer em decorrência do alívio desses acúmulos.

Em um de seus importantes textos, Freud fala que o aparelho psíquico é regido por dois princípios, o Princípio do Prazer e o Princípio de Realidade. Nosso primeiro modo de funcionamento, mais essencial ou mais básico, seria conforme o Princípio de prazer: se temos fome, comemos, se temos sono, dormimos, se sentimos frio buscamos nos aquecer, é assim funcionaríamos sempre buscando aliviar os estímulos porém numa condição próxima da animalidade. Como, porém, vivemos numa condição de cultura, muitas vezes não podemos satisfazer de imediato as nossas pulsões devendo adiar o prazer imediato para o satisfazer num momento mais adequado. É o caso por exemplo quando estamos no cinema e aguardamos o final do filme para aliviar as necessidades como urina ou fome. Tudo isso é treinado durante a infância, quando na escola a criança aprende por exemplo a hora que pode ou que não pode sair da sala para usar o banheiro, e até mesmo o fato de aprender que existe um local adequado, o banheiro, para satisfazer as necessidades, já é a inscrição do cultural nos fazendo ir além da condição de animalidade.

Assim, ao aprendermos a adiar as pulsões para o momento é local mais adequados, passamos a funcionar conforme o novo Princípio de realidade, que passa a reger nossa organização psíquica em relação com o social, mas também buscando evitar o desprazer, da rejeição social por exemplo, em busca de prazeres mais elevados e social e culturalmente mais aceitos e desejados, como o caso de buscar melhores condições de higiene e de cuidado consigo.

No seu clássico livro Mal estar na civilização, Freud apresenta o outro lado desta aquisição cultural: ao reprimir as pulsões em benefício dos ganhos culturais, acumulamos uma série de sensações e sentimentos ruins aos quais Freud nomeia genericamente de Mal estar (Unbehagen).

Este mal estar que se acumula seria mais imaginar de sintomas e desequilíbrios que podemos observar nos fenômenos sociais, como o narcisismo das pequenas diferenças, onde pessoas ou grupos semelhantes passam a manifestar forte aversão irracional, como vemos na situação política em que se encontra o Brasil atual, onde grupos de classe média semelhantes de digladiam nos discursos, nas redes sociais e algumas vezes até fisicamente, infelizmente, fazendo da violência e do discurso de ódio perigosos ingredientes de nosso caldeirão civilizacional.

Precisamos agora retomar s teoria de Freud sobre as pulsões. Em seu Pulsões e seus Destinos, Freud enumera alguns dos destinos possíveis para as pulsões. O primeiro deles é quando ela atinge a sua satisfação: ao sentir fome, comemos, ao sentir cócegas, rimos. Vale ressaltar que mesmo quando uma pulsão atinge seu destino ela nunca se esvazia completamente, ou seja, a satisfação pulsional direta nunca é completa, o que caracteriza mais uma fonte de mal estar.

O segundo destino de uma pulsão é sofrer o Recalque, mais um importante pilar conceitual para Freud. Ao ser confrontada com o Princípio de realidade, uma pulsão de agressividade por exemplo é recalcada ou reprimida retornando para o Inconsciente. A marca do recalque é o esquecimento ou a não identificação por parte do eu ou ego, mas vale ressaltar que os impulsos reprimidos continuam a atuar em nosso aparelho psíquico como fatores existentes, reais, causadores de mal estar e de sintomas.

O terceiro destino possível para a pulsão é exatamente a transformação em sintoma. Os casos clássicos de Freud são exemplificados com as diversas manifestações de sintomas histéricos daquilo que ele chamava de conversão: uma forte reação emocional poderia se transformar numa dormência, numa inibição, num mal funcionamento de um órgão ou membro, dentre outros. Assim, sintomas são, para Freud, a manifestação de acúmulos emocionais negativos decorrente de experiências traumáticas, negativas, aversivas ou violentas. Através dos sintomas surge toda uma teoria das estruturas as quais não é nosso objetivo aprofundar, mas temos a título de ilustração as neuroses, psicoses e a perversão.

Finalmente, um último destino possível para as pulsões é o que Freud chamou de Sublimação. Termo originário da física indicando a passagem do estado sólido diretamente para o vapor, indica transformação, mudança de qualidade ou de estado. Freud relata que a Sublimação é a transformação de uma pulsão em um objeto que seja culturalmente ou socialmente adequado.

Assim, todos os objetos de arte como músicas, pinturas, peças de teatro, toda a literatura, poesia, contos folclóricos, a própria dedicação à ciência, ao trabalho, a arquitetura, a mecânica, a engenharia, e incluímos por nossa conta, algumas manifestações da religiosidade, tudo isso seria a transmutação dos impulsos do ser humano em objetos mais socialmente desejáveis. Tudo aquilo que tem valor para a cultura é derivado deste mecanismo que Freud nomeou Sublimação.

Queremos concluir apresentando algumas ideias do que acontece durante um processo de terapia. O primeiro elemento é um processo de conscientização do ego ou eu daqueles impulsos recalcados que podem estar sendo transformados em sintomas. Ao relembrar, falar e repetir situações traumáticas, a pessoa é capaz de fazer uma catarse, uma limpeza emocional de uma série de fatores incômodos.

Como muitas vezes não temos espaço socialmente para entrar em contato com nossos sentimentos e emoções, é comum que no processo de terapia a pessoa se dê conta de partes dessas emoções que nem sequer tinha acessado por inteiro. Ao se conscientizar e falar, aquilo que antes estava reprimido no Inconsciente pode ser limpo, esclarecido e reintegrado da consciência, processo que Freud chamava de elaboração.

Em um segundo nível, na medida em que fala, o analisando está elaborando um processo criativo no qual está presente a Sublimação, ou seja, enquanto fala o analisando está já num processo criativo, cria e expressa a si mesmo enquanto fala. O analista enquanto escuta tem o papel de fazer vir à tona o Inconsciente, dando especial atenção aos processos através dos quais o Inconsciente atravessa a consciência, nos lapsos, nos chistes e nos sonhos por exemplo, fazendo assim com que o Inconsciente se expresse e seja integrado pela consciência.


Att, Pedro Possidonio. 
Psicólogo e Terapeuta.






Para saber mais sobre nosso trabalho, você pode visitar nossas páginas na Internet:












*Instagram: @pedropossidonio.psi










Qualquer necessidade, entre em contato conosco através do nosso email: 




Ou através do WhatsApp:





(85) 9.9688.8876.