sábado, 15 de agosto de 2020

A JOIA MAIS PRECIOSA



Vamos agora ilustrar o simbolismo do Si-mesmo através deste conto. Era uma vez um aprendiz que procurava entender seu verdadeiro valor e, para isso, foi buscar a orientação de um sábio. O sábio entrega a ele uma joia, mas primeiro diz que ela é apenas uma pedra colorida que não vale nada. Ao tentar vender para comerciantes simplórios na feira, ninguém deseja negociar a joia preciosa com o aprendiz e todos riem dele. Quando veio ter com o mestre, este o revela se tratar da joia mais nobre, e o orienta a ir negociar com um ourives especializado naquele tipo de relíquia. Desta vez o mestre orienta que não deve vender a joia por oferta nenhuma, mas apenas consultar seu verdadeiro valor com o especialista.

O ourives oferece ao aprendiz as maiores preciosidades em troca daquela joia, outrora desdenhada na feira pelos homens comuns, mas como o mestre orientou que ele não deveria vender ao ourives por preço nenhum e sim trazer ela de volta, o homem vai ao mestre espantado com a quantidade de riquezas que lhe foi oferecida e não pode aceitar, e pela mesma joia que pouco antes não conseguiu trocar por alguns trocados. O mestre, ao receber o aprendiz novamente, instruiu: não devemos comparar o valor de algo mais precioso que uma joia, nossa alma, pelo pouco valor que lhe é dado pelas pessoas comuns. O verdadeiro valor da joia está em brilhar apenas para aqueles que reconhecem seu valor.





Visita o interior da terra, e, retificando, encontrarás a pedra escondida.


A joia pode ser tomada como um símbolo para o valor do Si-mesmo. Desvalorizado por pessoas comum porém reconhecido pelo olhar treinado do especialista e do mestre, carregamos este precioso brilho sem nos dar conta de que ele está o tempo todo conosco. O mestre nesta e em outras histórias também representa este contato do eu com a sabedoria maior do Si-mesmo que coordena o processo de individuação.

Jung utiliza a Alquimia como simbolismo para estruturar a teoria dos arquétipos de sua Psicologia Analítica. Ele fala que os antigos alquimistas, por uma questão de censura religiosa, procuraram uma linguagem simbólica para ocultar os conhecimentos gnósticos das tradições de sabedoria mais antiga. Assim, o processo de transformar metais impuros como chumbo e mercúrio em metais nobres, até chegar no ouro ou na pedra filosofal, seria na verdade, na visão junguiana, uma grande depositária de imagens metafóricas para o que ele vai chamar de processo de individuação. Através da arte ou função transcendente transformamos os sentimentos negativos e o sofrimento em ouro, em símbolos, em imagens que nos reintegram à sabedoria do Si-mesmo, que está em comunhão profunda com a sabedoria da natureza e da vida.

Individuação é o processo de desenvolvimento da personalidade, purificando os elementos impuros da sombra e das emoções e sentimentos perturbadores até chegarmos no ouro ou na joia precisa, a joia da mais elevada sabedoria filosofal, o conhecimento profundo e atemporal do Si-mesmo. Presente em todas as culturas, em todos os mitos, contos e histórias, esta sabedoria perene espera que nós nos debrucemos sobre a arte, as histórias, os contos, as fábulas, para que possamos transformar em nós o nosso chumbo em ouro. É disso que falam todos os contos, fábulas e lendas do folclore, é esta a sabedoria oculta presente no poder de todos os verdadeiros mitos, capazes de revelar o novo mundo da alma e de nos fazer renascer para uma nova harmonia do eu para com a vida.




Att, Pedro Possidonio
Psicólogo e Terapeuta
Atendimento presencial e online
WhatsApp (85) 99688.8876