quarta-feira, 20 de maio de 2020

Suicídio e Saúde Mental na quarentena


Falar de uma temática tão delicada quanto o suicídio é um procedimento de extrema responsabilidade. Neste período de quarentena, onde já é sabido que se tem piorado os índices de ansiedade, depressão, dependência química, violência doméstica, também percebemos uma piora em clientes em relação ao índice de ideação suicida e tentativas de suicídio.


Está se sentindo muito mal e precisa falar com alguém? Ligue 188.

Não podemos julgar a pessoa que é atravessado pela ideia do suicídio, pois muitas vezes ele está ligado a depressão, transtorno bipolar, transtorno de humor, boarderline ou outros casos graves de saúde mental. A pessoa que flerta com o suicídio almeja a liberação do sofrimento, não o morrer por morrer, mas libertação de estados mentais graves de mal estar e angústia.

Também não podemos julgar alguém do entorno especifico como pai, mãe, familiares, professores, términos de relacionamento, conflitos pontuais e específicos como causa única do suicídio. O suicídio é sempre complexo e multifacetado, sendo a resultante de múltiplos desequilíbrios orgânicos, mentais, familiares e sociais. Ao mesmo tempo somos todos responsáveis e ninguém é culpado.

Culpar uma pessoa específica como o namorado que terminou, o amigo que brigou numa partida de futebol no colégio, o sócio que faliu a empresa, o pai que não dava atenção ou a mãe que brigou pode gerar outro suicídio, e não é a solução. Depressões e conflitos familiares estão ligados sim, mas todos nós praticamente temos históricos familiares com grandes perdas, alcoolismos, depressões, doenças mentais, abortos, violência, entre outros. Como as gerações anteriores procuraram pouco tratamento, as questões tem se acumulado e explodido nas gerações atuais.

Outro fator importante é o valor que a sociedade atribui ao externo, a aparências, a status, ao consumismo, e a baixa valorização de atividades que verdadeiramente alimentam e fortalecem a alma, todas vistas como vagabundagem, como a arte, a música, a poesia, a filosofia, a literatura, as práticas espirituais como meditação e terapia.

Assim, vivemos uma sociedade de consumo e de espetáculo, onde cresce o isolamento, o narcisismo, o fetichismo da mercadoria e do consumo, e cresce o abismo emocional interior de uma vida vazia de sentido e significado.

Mas sempre é tempo de repensarmos nossa vida, nossas escolhas, nosso modelo civilizatório e os valores de nossa existência. Podemos voltar a cultivar a nossa alma esquecida, e os muitos caminhos estão sempre lá esperando por nós para alimentar nossa alma faminta.

Todos estes problemas de ansiedade, depressão, e também o suicídio podem ser uma oportunidade a todos nós para vivermos um novo modelo de vida, mais afetivo, emocional, espiritual, voltado para nosso verdadeiro desenvolvimento interno e para relações de cuidado. Ao invés de cobranças, julgamentos e brigas, relações de acolhimento, de escuta, de valorização da vida, de aceitação mútua, de mútuo apoio e incentivo.

Lembramos que casos de ansiedade, depressão e ideação suicida devem ser tratados com acompanhamento psicológico, que pode ser presencial ou, no período atualmente de isolamento social e depois dele, também na modalidade online. Casos de tentativa de suicídio já precisarão de intervenção e avaliação psiquiátrica, muitas vezes sendo necessário a internação a depender da gravidade.

Para a pessoa que passa por estas situações, nossa recomendação seria a de procurar e encontrar um profissional de confiança e qualidade, pois falar sobre nossas questões, angústias e dores vai limpando e amenizando o nosso sofrimento. Mas não devemos esperar uma cura mágica e total, nem acreditar que só o profissional é responsável por nossa cura. Podemos ainda buscar nossa paz interior e equilibro, assistindo palestras, lendo bons livros, praticando alguma forma de arte ou expressão emocional como escrever, ler, desenhar, meditar, e assim aprender a alimentar o nosso espírito.

Estamos à disposição para esclarecimentos e desejamos saúde mental e vida de qualidade a todos e todas. Que possamos nos cuidar, ouvir e acolher. Que possamos despertar um viver para o amor e para o Ser.


Para ver mais sugestões de vídeos sobre Luto, Perda, morte e a questão do suicídio, indicamos a playlist a seguir em nosso canal no YouTube:



Att, Pedro Possidonio
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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Morte na Psicologia Analítica

Neste tempo de pandemia, onde somos confrontados com morte e perda, me deparei num grupo com uma pergunta sobre a morte e o inconsciente coletivo de Jung.

A morte pode ser considerada um arquétipo, não tendo um conteúdo específico no inconsciente coletivo. No conceito de arquétipo de Jung, devemos imaginar uma caixa vazia, sem conteúdo, a qual será preenchida conforme cada pessoa e cada cultura. O arquétipo é uma função psíquica, uma estrutura formada ao longo da história da humanidade, que terá sua forma nas imagens e simbolismo de cada época.



Morte como putrefactio, representação da alquimia.


Nas culturas e na vida de cada um este arquétipo assume conteúdos e significados. Assim, a morte para as culturas xamânicas significava uma viagem definitiva para a nação das estrelas. Para a cultura chinesa antiga, as várias partes da alma se decompunham e cada uma tinha seu destino. Para os cristãos católicos, há um julgamento e uma seleção para paraíso, purgatório ou inferno.  Para os gregos antigos, a alma era levada pelo barqueiro Caronte, atravessando o rio da morte e indo para o Hades, submundo onde moravam as almas.

No livro arquétipos e inconsciente coletivo, Jung fala do arquétipo do renascimento, que pode ser vivido como transformação, iniciação, metempsicose, reencarnação, dentre outros. Podemos assim perceber que há uma conexão entre morte e renascimento, morte e vida. O tempo todo passamos por mortes simbólicas, por transformações que marcam cada etapa da vida.

Jung fala no Natureza da Psique que não podemos viver numa casa acreditando que ela possa cair sobre nós, e fala que em várias culturas a morte não é entendida como fim, mas como continuidade, mas ele não afirma isso categoricamente, pois se o fizesse não estaria sendo científico.

Na visão de Jung, a realidade psíquica é a única que pode ser estudada ou afirmada, não a realidade concreta, final ou objetiva. Afirmar que não existe nada depois da morte, ou afirmar que existe algo sim depois da morte são, para Jung, objetos da metafísica, expressões de fé. Mas não é possível chegar a uma verdade final absoluta e científica sobre isso. No entanto, a verdade da alma, aquilo que acreditamos no íntimo e que nos trás paz é o que deve ser observado e apontado pelo analista.


Lembro de uma senhora a qual atendi, seu filho foi encontrado morto e deram o caso como suicídio. O jovem porém, não tinha histórico psiquiátrico, não se despediu deixando uma carta, não deixou sinais. A mãe, minha cliente, teve um sonho, onde o jovem contava que não foi ele, e sim tal pessoa tinha feito isso com ele. A mãe ouviu depois, ocasionalmente, o nome desta mesma pessoa, a qual não conhecia, numa reunião de homenagens do local onde ele trabalhava. Não vem ao caso aqui falar o local.

O interessante é apontar que, após ela contar, pudemos reforçar com ela que era interessante acreditar nesse conteúdo dos sonhos, pois eles vem de uma dimensão mais profunda do nosso Ser, da nossa alma. Ao longo das sessões, ela pode elaborar o luto e encontrar paz e  aceitação da morte do filho. Vale ressaltar, por último, que este tipo de conteúdo não pode ser usado como prova por exemplo, ou como abertura de um processo de investigação. Mas acreditar na realidade psíquica trazida pelo sonho fez essa mãe se harmonizar com o destino do filho e encontrar mais paz, avançando no seu processo de equilíbrio.

São apenas algumas ideias, espero ter contribuído, não pretendo ter esgotado tudo sobre o assunto mas ficam estas Reflexões para despertar o interesse na obra Junguiana.

Para os que lêem em português posso indicar os livros A morte a luz da psicologia, de Aniela Jaffe, e Os sonhos e a morte, de Von Franz. Existe uma compilação de artigos junguianos num livro chamado Reflexões sobre a Morte no Brasil, organização de Oliveira e Callia, Ed Paulus.


Deixo também as sugestões de playlists no YouTube:





A morte nos angústia a todos, a possibilidade da perda do que para nós é objeto de afeto nos assombra, mas é possível, em alinhamento com as verdades mais profundas de nossa alma, buscar um equilíbrio e usar a morte não como inimiga, mas como fonte de sabedoria e de conexão com o Si mesmo.

Fica a mensagem final de que a morte, as perdas e transformações possam ser objetos de nossas reflexões e conscientização. Reflexões sobre o morrer são também reflexões sobre o viver uma vida significativa.


Deixe suas dúvidas e comentários. Gratidão e grande abraço.


Att, Pedro Possidonio
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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Relações em tempos de crise



Escrevo este texto a partir de observações clínicas feitas sobre relacionamentos durante a quarentena de 2020, mas espero que as reflexões sirvam para outros momentos de crise, seja social seja de uma relação específica.

Um momento de crise como a quarentena funciona como uma lupa, e questões que costumávamos colocar em baixo do tapete acabam vindo à tona. Ansiedades, pânicos, depressões tem aumentado nesse momento difícil. A crise trás o nosso pior à tona para olharmos. Quando acolhemos com atenção, podemos nos transformar, quando negamos, aquilo que rejeitamos volta de novo e de novo até que tomemos consciência.

São vários os casos de casais em conflito, por exemplo. Devido a hostilidade e falta de diálogo varias situações vem piorando. O que repito sempre é que só você ou vocês podem avaliar se a situação está ruim e merece ser trabalhada para melhorar ou se realmente está tóxica e passou do limite dos acordos possíveis.

Para os relacionamentos funcionarem, é preciso refazer os nossos acordos. Precisamos deixar de lado a produtividade tóxica, de tudo fazer e para todo lugar correr sem sair do lugar. Precisamos observar as cobranças que fazemos ao outro e a nós mesmos. A ideia aqui é mais aceitação e mais acolhimento, para si e para o outro, principalmente neste momento de crise. Desaconselho tomar decisões importantes e impulsivas.

Por outro lado são vários os casais se encontrando, iniciando ou re-iniciando algo novo. O outro sempre é um mistério a ser redescoberto. Observe, pois tudo aqui que chega pode ser tomado como lição para nossa evolução. Para quem mora junto, cuidar e desfrutar destes recomeços, para os afastados, paciência e respeito à necessidade de isolamento social para a saúde de todos.

Relacionamentos outros com pais, mães, filhos e familiares em geral valem semelhantes reflexões: diminuir as cobranças e idealizações, aumentar a aceitação do que é, de quem é o outro, com seus limites e imperfeições. É interessante sempre ter a noção da distância saudável. Se está incomodando, em geral está próximo demais. É importante cultivar um espaço de cuidar de nós mesmos, para cultivar nossa alma, recarregar nossas baterias emocionais.

Sempre é tempo de aprender algo novo, buscar a criatividade, aprender a lidar com nossas emoções aprender a se relacionar. Existe sempre um mistério a ser descoberto em nós mesmos. É importante buscar o cuidar bem de si, buscar o equilíbrio e buscar cultivar uma vida de amor e autodescoberta.

Ideia importante para todas as épocas, mas mais ainda para estes tempos de isolamento, é ser uma boa companhia para si mesmo. Faça coisas que te façam sentir bem, para receber um pouco de energia vital vinda de fora: cuide de seus animais e plantas, leia um bom livro, assista coisas que te façam bem, faça uma dieta de mas notícias ou pessoas que te façam mal, ajudemos e consolemos uns aos outros, busquemos a fé no espiritual para quem o tem. Para quem precisar, busque ajuda online. 


Sei que são muitos os medos e perdas nesse momento, mas vamos reaprendendo a viver um momento de cada vez. Se cuidem! Quem puder, fica em casa!

Att, Pedro Possidonio
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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Psicanálise e Zen Budismo



Hoje estou indicando, a quem interessar, a leitura do Psicanálise e Zen Budismo, de um autor chamado Erich Fromm. Ele desenvolveu uma linha chamada psicanálise humanista, muito interessante, pois neste livro mescla os conceitos de Freud com Sartre com o Zen Budismo. Olha só esse trecho, ele contrapõe a ideia de mal estar que gera sintomas com a ideia de bem estar, apresentando este como novo conceito:

"Bem-estar é o estado de quem chegou ao pleno desenvolvimento da razão: razão no sentido não de um julgamento meramente intelectual, mas de apreender a verdade pelo método de "deixar que as coisas sejam" (para empregarmos a expressão de Heidegger) como são. O bem-estar só é possível na medida em que a pessoa superou o próprio narcisismo; na medida em que a pessoa é aberta, receptiva, sensível, desperta, vazia (no sentido de Zen). Bem-estar significa estar plena e afetivamente relacionado com o homem e com a natureza, superar o isolamento e o alheamento, chegar à experiência da unidade com tudo o que existe - e, ao mesmo tempo, sentir-me a mim como a entidade separada que eu sou, como um indivíduo. Bem-estar significa ter nascido plenamente, tornar-se o que se é potencialmente; (...) despertar do meio-sono em que vive o homem comum e estar inteiramente acordado. Se é tudo isso, significa também ser criativo, (...) reagir e responder como o homem real, total, que sou à realidade de todos e de tudo como são. Nesse ato de resposta verdadeira reside a área da criatividade, (...) o mundo criado e transformado pela minha apreensão criativa, de modo que ele deixa de ser um mundo estranho, 'lá longe', e torna-se o meu mundo. (...) experimentar-se a si mesmo no ato de ser..."

Fromm conta que o objetivo da psicanálise é tornar consciente o Inconsciente (creio que essa frase remete mais ao Jung que ao Freud). Em outro Momento ele fala que transformamos o Id em Eu . O Id é instancia das pulsões, instintos inconscientes e cegos, na fronteira entre o somático e psíquico, e o Eu é a estrutura psíquica da consciência, construída como um administrador. Enquanto o Id funciona conforme o Princípio do Prazer, o Eu procura adequar este prazer para os momentos mais socialmente desejáveis, ajustados, o que vai ser chamado Principio de Realidade.

O autor que a maioria das pessoas têm um nível de funcionamento só o necessário para funcionar socialmente, mas é como se fosse uma falsa consciência, pra mim como se fosse aquele conceito da psicologia cognitiva das crenças que acabamos acumulando ao longo da vida. Fromm chega a falar diretamente que a maioria das pessoas estão dormindo, e elas teriam nesse processo de aprender a despertar (Impossível não associar ao tema do filme Matrix). Assim ao trazer o Inconsciente para o consciente estaríamos mais próximos de realizar um eu real, um ser humano completo e em harmonia com a natureza na visão de bem estar por ele apresentada.

Ele também aborda um conceito que concordo totalmente, que durante a análise tanto o Inconsciente do analisando vai sendo transformado para ser Consciente como isso também acontece com o analista, então no processo o analista também vai se curando, desenvolvendo consciência , ele fala que parte da função do analista é amar o analisando, não eroticamente, mas com aquele amor que todos sentimos falta na infância, ajudando assim a desenvolver as partes que não amadureceram e ficaram estagnadas nos traumatismos.

No livro existem muitas outras reflexões, não pretendo as esgotar, apenas dar um gostinho e estimular a leitura de quem interessar possa. Deixe suas dúvidas e comentários! Grande abraço.


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segunda-feira, 11 de maio de 2020

A capacidade de amar e se entregar



Dentro do movimento psicanalítico ocorreram várias dissidências importantes, as mais famosas Jung e Adler, mas hoje vamos falar das contribuições de Wilhelm Reich.


A partir da ideia de libido, a energia sexual e vital em Freud, Reich desenvolveu a ideia de essa energia vital ser medível é observável fisicamente, e montou uma série de experimentos para o comprovar. Ele apresenta resultados e ideias importantes em seu principal livro tese, A Função do orgasmo.

Reich dizia que a energia vital, a qual ele chamava de órgone, flui através do nosso corpo durante o orgasmo, tendo papel importante na manutenção da saúde e vitalidade. Ele dizia que o órgone, energia vital, também está presente nos animais e na natureza, por exemplo, explicando-nos que era por isso que nos sentimos bem com animais ou num ambiente como uma praia ou em contato com a natureza, em locais abertos, pois estes locais seriam repositores naturais de órgone, recarregadores de energia.

Esta energia vital poderia, no entanto, encontrar uma série de barreiras para a sua circulação. Estas barreiras funcionariam no corpo como tensões, aquelas mesmo que atribuímos ao estresse, que Reich chamava Couraças. Parte da sua terapia tinha que ver com identificar e dissolver esses bloqueios.

O autor dizia que devido às Couraças, teríamos bloqueios nesse orgasmo, o qual se tornaria incompleto e insatisfatório. Dai o ser humano procurar as traições e vícios, numa tentativa sôfrega de completar esse prazer, porém nesse caminho isso não acontece, mas sim ao retificar o desequilíbrio. No nosso modo de entender e explicar, essas Couraças tem a ver com aquilo que chamamos de crenças, quanto mais temos crenças limitantes sobre sexualidade e sobre o amor, menos nos entregamos de verdade, o que gera tensões e uma entrega que não é total, condição que Reich chamava impotência orgástica.

Por outro lado, ao nos entregarmos totalmente na relação com a pessoa que amamos, na medida em que desbloqueamos este fluxo de energia em nós, atingimos a potência orgástica em níveis cada vez mais elevados, e vivemos uma vida mais plena, com saúde e vitalidade. Assim, nossa capacidade de amar e de nos entregar numa relação amorosa estará totalmente ligada à nossa saúde psíquica. Muitas vezes associado a uma má fama de pervertido, Reich foi tratado como louco e morreu no ostracismo, mas por exemplo suas biografias apontam que amava a esposa e era fiel. Ele dizia que quem é capaz de se entregar completamente numa relação , atingindo plenamente o orgasmo, não teria necessidade de outras relações.

“O amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes de nossa vida. Deveriam também governá-la.” W. Reich.

O discípulo mais importante de Reich, Alexander Lowen, desenvolveu uma série de práticas as quais nomeou Exercícios de Bioenergética, mudando para bioenergética o nome da vegetoterapia, termo escolhido por Reich para a terapia dessa energia vital. Para uma imagem mais clara, porém imprecisa, estes exercícios de biogenética são para mim semelhantes aos propostos na yoga, terapia complementar hoje conhecida e autorizada pelo sus, mas que não o era na época de Reich e Lowen. Através de exercício de vocalização, respiração e alongamentos terapêuticos, juntamente com a relação de análise terapêutica, a bioenergética se propõe a este equilíbrio da saúde e energia vital.



Assim, segundo estas ideias, nossa capacidade de amar e se entregar ao amor, nossas crenças sobre amor e sexualidade, estão diretamente ligadas à nossa saúde, vitalidade, equilíbrio físico e psíquico. Nossa maturidade emocional, de viver uma relação plena e verdadeira, seria reflexo do nosso desenvolvimento interior, o qual deve ser obra de toda uma vida, do autoconhecimento e da transformação interior.


Para ler Reich sugerimos seu clássico A função do Orgasmo e seu Escuta! Zé ninguém, uma importante obra de crítica ao fascismo. Para ler Lowen, recomendamos o Bioenergética e o Exercícios de Bioenergética.



Att, Pedro Possidonio
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sábado, 9 de maio de 2020

Melhores livros para iniciar em Psicanalise e Psicologia Analítica



Devido a perguntas de leitores, clientes e alunos, deixamos agora sugestões de leituras para iniciar no universo da psicanálise e da psicologia analítica.


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#Leituras Iniciais em Freud e Lacan


Para começar a ler Freud, seus textos mais Básicos são as Conferências introdutórias em Psicanálise e as Cinco lições sobre a sexualidade infantil. Um segundo nível mais apurado seria ler os artigos metapsicológico, há uma edição deles chamada Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente, a qual adoramos.

Para ler Lacan recomendamos o seu Escritos, principalmente os artigos ou capítulos Função de campo da fala e da linguagem em Psicanálise e o A significação do falo. Existe um livro também bom para introdução a leitura de Lacan que é Os nomes do pai. Por último, para iniciar as leituras dos seminários, recomendo começar pelo Seminário 23, o Sinthoma.

Vou também indicar a leitura dos meus comentadores preferidos. Marco Antônio Coutinho Jorge fez uma série com três livros chamados Fundamentos de Psicanálise de Freud a Lacan, recomendo.

Do autor Jean David-Nasio recomendo as obras introdutórias 5 Lições sobre a Teoria de Jacques Lacan e o Lições sobre os 7 conceitos cruciais em Psicanalise. Também recomendo o seu Sim! A psicanalise Cura, e ressalto que o autor tem outras obras excelentes e didáticas obras para quem quer mergulhar neste universo psicanalítico.

Também indico sempre as obras do autor brasileiro e professor da USP Christian Dunker, seus livros Mal Estar, Sofrimento e Sintoma e também A reinvenção da intimidade são de ótimas reflexões contemporâneas.



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#Para começar a ler Jung


No universo da psicologia analítica, o livro mais recomendado para iniciar é o Homem e seus Símbolos. Também é interessante conhecer as Memórias, Sonhos e Reflexões, organizardes por Aniela Jaffé. Após eles, pode ser uma boa o livro o Eu e o Inconsciente e o Desenvolvimento da Personalidade, das obras completas de Jung.


Interessante dos outros junguianos citar os livros Jung vida e obra, de Nise da Silveira, e o A Busca do Sentido, de Marie Louise Von Franz.



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#Indicações de vídeos no YouTube


Para os que gostam dos vídeos, vou sugerir as Playlists de meu canal no YouTube, as quais montei com recomendações especiais dos autores que mais gosto, ou com meus próprios vídeos.



#Com meus vídeos temos









#Com sugestões temos









Estamos à disposição para dúvidas e esclarecimentos, e se faltou alguma indicação de leitura importante para você, pedimos que deixe nos comentários! Grande abraço!




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sexta-feira, 8 de maio de 2020

O mal entendido

O mal entendido é um conceito fundamental para Lacan. Ele diz que está no centro da comunicação humana. Isto ocorre porque, naquilo que dizemos, existem muitas possibilidades de interpretações, e cada um interpreta conforme sua história, suas vivências, seus significados. Por isso, também, quando dizemos, o fazemos com um sentido e, às vezes, a interpretação do outro vem num completo outro sentido. Por isso é preciso cuidar das relações, é preciso, escuta, presença.




Sempre tem algo de vazio e aberto a interpretações. Parte do treinamento de ser analista é aprender a perceber isso nos analisandos, pacientes e clientes. um treino de ouvir isso no que os outros falam. Inclusive é possível dizer que, quando o cliente está em sessão, não é exatamente ele quem fala, pois quem fala muitas vezes é o Inconsciente, se manisfestando nos atos falhos, lapsos, erros, chistes, esquecimentos, duplos sentidos, mal entendidos. Então ficamos muito muito atentos a essas questões de entrelinhas, entre-ditos , menções que nem mesmo a pessoa se dá conta, um escuta com uma atenção diferenciada a nosso próprio Inconsciente, treinado, a perceber o que chega naquilo que o analisando fala, pois nas entrelinhas o Sujeito do Inconsciente fala, se manifesta, e é necessário ser ouvido para se tornar consciente.



A base do conhecimento de nós mesmos, que é um conhecer ao Inconsciente, é que nós vivenciamos um desconhecimento essencial de nós mesmos. Nós não sabemos que somos. Isso nos leva a questão da verdade ou mentira em terapia, bem como na vida. Claro que ninguém diz totalmente a verdade o tempo todo, e alguém q diga "Eu só digo a verdade", essa frase já é uma grande mentira, já é uma demonstração de inconsciência. Isto é diferente da mentira intencional, para manipular. É uma mentira do ser que não se percebe, pois mentimos principalmente pra nós mesmos , não sabemos quem somos totalmente. Existe dentro da dimensão do Inconsciente uma coisa informe, amorfa, em nós que desconhecemos, Freud chegou a usar o termo Infamiliar (das Unheimlich).


Toda essa discussão me lembra a música de Chico Buarque O que será (À flor da Terra). Convido você a escutar ela com essa percepção agora pra perceber, como ela pode também falar disso que estamos discutindo. Segue a letra/poesia:


O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza, nem nunca terá
O que não tem conserto, nem nunca terá
O que não tem tamanho
O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência, nem nunca terá
O que não tem censura, nem nunca terá
O que não faz sentido
O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo

Podemos enunciar muitas teorias pra o que é que ele estáá falando na metáfora da música. Mas em momento nenhum se fecha, porque o nosso ser é assim, é aberto, é sem sentido final (o que é diferente de dizer que não tem sentido), e essa é uma das maiores fontes do nosso sofrimento. O trauma do Real, ou a angústia do Real. Viver, em si mesmo, é uma forte de traumatismo. Daí buscamos preencher esse furo com o falar, o simbólico. E, na dimensão do simbólico, sempre temos abertura para novos significados, daí que a linguagem do ser humano é criativa, aberta.




Diferente de um animal, que já nasce pronto, o ser humano é o único na natureza que precisa fazer-se, se descobrir e se realizar. O gato ao nascer trás em si toda sua 'gaticidade'. Já o ser humano dever tornar-se humano. 

A dimensão instintiva do gato nasce completa, no ser humano, esta  dimensão apresenta um furo. Esta imagem inconsciente dos instintos é para Lacan a dimensão do Imaginário, repertório pré simbólico ligado à cadeia evolutiva do ser humano. O furo, a ausência de sentido no imaginário do humano é a dimensão do real.

Para preencher o furo no imaginário é que existe o simbólico, o que se dá por meio da linguagem. Coutinho Jorge vai completar essa lição dizendo que tudo o que é do ser humano está mergulhado na linguagem. Lacan diz nos escritos que o sujeito humano nasce na linguagem. Mesmo assim, em tudo que se fala há o atravessar do real, a falta, o vazio impossível de ser fechado num significado último.

Para mais reflexões lacanianas sugerimos os Livros Fundamentos de Psicanálise de Marco Antonio Coutinho Jorge e o livro Por quê Lacan, de Christian Dunker. Sugerimos o canal deste também no Youtube. Para quem prefere os vídeos, fizemos também uma playlist em nosso canal chamada Melhores Reflexões em Psicanálise e Cultura. Segue o link: Clique aqui.



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terça-feira, 5 de maio de 2020

Análise Psicológica, Mitológica e Arquetípica do Filme "O Poço"


Atenção! Contém muitos Spoilers
Recomendo ver o filme antes e esta análise depois.


Vamos fazer através destas breves reflexões uma análise Psicológica do filme O Poço, seus simbolismos e lições. Pretendemos aqui ir um pouco além da crítica que normalmente se faz, da estruturação do Poço em camadas sociais, no entanto sem abrir mão dela.

Existe uma história que vem à mente imediatamente quando assistimos o filme. É aquela que diz assim: Era uma vez, no céu e no inferno, um grupo de pessoas, cada uma delas tinha uma grande colher e havia um caldeirão imenso com uma deliciosa sopa. Ainda que o cenário fosse o mesmo, a diferença é que, no céu, as pessoas alimentavam umas às outras com suas grandes colheres, enquanto que no inferno as pessoas, somente pensando em si, tentavam de toda forma tirar vantagem e evitar o ganho dos companheiros de cela. Assim, tentavam comer com suas colheres mas derramavam a sopa, se queimavam, estragavam, e todos passavam fome, enquanto no céu todos estavam nutridos de sopa e de afeto.

Vamos fazer referência aos personagens principais com suas imagens, não mencionando eventuais nomes que tenham aparecido no filme. Assim, vamos chamar de O Velho, O Quixote, A Mãe e A Menina de Olhos Puxados do fundo do Poço, a qual chamarei, inferência minha, de Esperança. 



O Velho, por exemplo, representa uma versão antiga de deus, uma divindade que só se saciava com sangue, a semelhança de Wotan e do Fauno, deuses considerados pagãos que tinham o dom da ordenação cósmica mas não se preocupavam com a moralidade. Assim como os deuses gregos, que se diferenciavam dos homens como sendo imortais, e não como moralmente superiores, vivendo as mesmas pathos, as mesmas paixões dos humanos. Assim, nosso Velho do bombástico meme do Óbvio, ora aparece como Saturno ou Zeus, ora representa Dionísio, o aclamado deus da crítica e da dúvida nietzcheana.

O nosso representante do Arquétipo do Herói leva consigo para sua iniciação no Poço o icônico livro Dom Quixote, o cavaleiro de escudo brilhante que lutava com moinhos de vento, representando as utopias e os sonhos impossíveis. Podemos aqui fazer uma primeira comparação de opostos nos arquétipos de Jung: Puer e Senex, o Velho e o Iniciante ou iniciado. Assim, chamaremos nosso Heróis de Quixote. Percebemos que ele apresenta primeiramente uma motivação egoística, deixar de fumar, obter um certificado, mas depois ele se engaja na transformação completa da lógica de ilusões do poço.

Vamos agora nos referir ao próprio Poço, símbolo arquetípico muito interessante. É a torre em que habita a princesa enclausurada, é o calabouço no fundo do castelo. Quando caímos em depressão sempre se fala, cheguei ao fundo do Poço, mas no Poço haverá fundo? 132? 200? 250 níveis? O Poço é a caverna de Platão, é o Samsara, mundo das formas e representações ilusórias, mundo prisão de provas e espiações em imagens mais modernas, o Vale de Lágrimas da cristandade. O Poço é o Mundo da matéria, governado por uma administração cega. Se os recursos fosse bem distribuídos, ora, haveria para todos. Mas quem vai deixar de estocar seu álcool em gel e seu papel higiênico em tempos de pandemia no qual escrevo, não é mesmo? A imagem de cair no Poço remete a muitos mitos, vamos só mencionar o mito moderno de Alice, a heroína que desce pela toca do coelho. 

O poço tem 333 níveis habitados, no entanto eles descem até mais fundo, o que me leva a referir que o nível 333 é o meio do poço. O final fica no 666. Não é Óbvio? Em vários momentos nosso personagem velho trás elementos do Trickster ou Mercúrio, divindade pagã que fazia travessuras e representa a animalidade no homem, a semelhança dos contos do Saci em terras brasileiras ou dos doendes e gnomos dos gringos. Doces ou Travessuras? A Panacota, um doce, óbvio.

Para os antigos Deus caía sobre a Terra na forma de Maná, e nos alimentávamos diretamente de seu corpo na travessia dos Hebreus pelo deserto, aliás o Poço é também o deserto. Este deus provedor é substituído na nova aliança por um deus que se manifesta nos pobres, nas crianças, nos doentes. Todo aquele que dá de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestir a quem tem frio, é a mim que o faz. Jesus, o Mestre Jedi da galiléia, faz com que o pão que cai dos céus se trasmute no seu corpo e vire alimento da alma, que encarna nos pobres e nas minorias, na criança que está no fundo do poço.

A criança, uma linda menina de olhos orientais, é a garota vietnamita da foto histórica, com sua pele queimada pelas bombas químicas que representam o começo de uma nova era da humanidade. Tema também mitológico, a transição da era de Saturno, o velho, patriarca, para a Criança Oriental e mulher, o feminino sagrado que está nascendo e regerá a humanidade na chamada era de aquário. 

A mensagem passa do pão, do maná, do deus provedor, para a criança, que representa o despertar de um olho oriental para quem está lá em cima, no topo do mundo ocidental, no nível zero do poço. Sua mãe, quando chamamos por ela e a ajudamos a alimentar a criança, se transforma naquela que roga por nós, e a nosso auxílio intercede nos momentos mais difíceis. Temos aqui mais um par arquetípico da mãe e da criança divina. A mulher entrou só no poço, mas surgiu uma criança, ela é filha do sofrimento desta mãe? Como a imagem da Lama que faz surgir a mais bela Flor de Lótus. A criança agora é a mensagem, ela é a Esperança. Será que ela vai conseguir? Saturno e seu filho, seu iniciado, ensanguentado como na representação de Mel Gibson, torcem por ela.



Hoje temos a notícia de que o vírus, pandemia mundial, já matou mais do que o Vietnã. O egoísmo assombra nossas possibilidades de sobrevivência. Heróis dão a vida para cuidar dos outros, ou se dão a muitas perdas para cuidar dos seus. De toda esta lama, esperançamos, surja um novo lótus que seja para nós uma mensagem. Tem muita coisa fervilhando no inconsciente coletivo da humanidade...





Vamos agora trazer breves notas sobre as estruturas psicológicas e os personagens. As estruturas é um tema na Psicanálise de Freud. Diante de um sofrimento ou do sofrimento, da angústia, aquilo que Lacan chamava de O Real, formam-se as estruturas neurótica, psicótica e perversa.



O velho representa a perversão. Diante da ausência de sentido ele pensa apenas nele mesmo, renega a lei e o pacto social. Projeta nos outros dizendo que os outros vão estragar a comida ou nela excretar, e por isso ele pode fazer também, afinal, fizeram com ele. O psicopata ou sociopata são exemplos extremos, como aqueles que estão nos níveis mais profundos estuprando, matando, esquartejando, queimando os índios, afinal, o que importa é o meu prazer. Como na figura do Dexter, psicopata que só mata psicopatas, temos uma renegação da lei em favorecimento do id, instancia onde habitam as pulsões e os desejos.



O Quixote representa por sua vez uma estruturação Psicótica. Assombrado pelos moinhos de vento, após as mortes do velho e da dona do cachorro, ele faz o ritual sacrificial de incorporação da carne, como apontado no livro Totem e Tabu, de Freud, onde os filhos sacrificam o pai e com isso tem que conviver com a culpa do assassinato. Ele tem várias alucinações com as vozes de sua cabeça que o assombram até que aceita, assim como Jonas, mergulhar nas profundezas do Poço para levar A Mensagem. O Psicótico recusa o desejo (de comer por exemplo) e sucumbe diante da culpa, mas pode transitar para uma borda um pouco mais neurótica, ao tentar refazer um pacto com a dimensão do desejo.



A nossa amiga dona do cachorro representa o pacto do neurótico. Ela sabe, já trabalhou para o sistema, mas em busca de dar um sentido para sua finitude resolver entrar no poço e ajudar aquelas almas perdidas na escuridão, então ela tenta enunciar as regras do pacto social, sem sucesso. Afinal, ela sabe como todos deveriam ser para a sociedade funcionar. Então, como dizia Lacan, cria o seu mito individual do neurótico e nele se isola para fugir da realidade dura e sem sentido do Poço.



Outra figura que representa o Neurótico é o homem negro que ajuda Quixote, hora ele aparece quase como um pregador mas buscando sua salvação individual, horas encarna a figura de um líder que conduz sua voz ativa e agressiva para que os recursos sejam melhores distribuídos no poço. Terá ele ficado satisfeito com seu papel nesta intrincada trama cósmica? O Neurótico sempre criará novas defesas para desviar a visão clara da luz que irradia e queima os olhos.



Não concluindo mas tendo que terminar, falaremos do tema da Sublimação de Freud, ou função transcendente de Jung, função criativa da Psique. Haverá futuro para nossa ilusão? A função criativa se apresenta primeiro como um livro, o qual depois não servirá para nada, e finalmente virará forro para o estômago vazio e desesperado. As histórias que são contadas e se contradizem nos vários níveis do Poço. A Luz que brilha quando Quixote e a Esperança estão no fundo do fundo do Poço. A figura de um professor negro em uma cadeira de rodas, um Luther King que perdeu seus movimentos e manca, ele é o psicólogo do grupo, sentado em sua cadeira servindo de porta voz às incursões da Mensagem, o Significante que vem da dimensão do inconsciente e que deseja resgatar o Equilíbrio da Força. E você, qual seu time? Não há futuro de nossa ilusão, acredita no Crepúsculo dos Ídolos, ou joga no time dos poetas,dos delírios utópicos, dos vagabundos, dos que ousam sonhar que a Esperança vai conseguir atravessar o Poço e que sua Mensagem será ouvida? Fico à disposição para receber e trocar reflexões.

Uma amiga sugere colocar indicação de leitura para quem quer mais reflexões simbólicas e mitológicas. Indico o homem e seus símbolos de Jung, e o poder do mito de Joseph Campbell, ele também está como video no Youtube. De Psicanálise recomendo o Fundamentos de Psicanálise de Freud a Lacan, de Marco Antonio Coutinho Jorge, e A Reinvenção da Intimidade, de Christian Dunker.

Recomendo também no meu YouTube a playlist Leituras em Psicanálise e Psicologia Analítica: Freud, Lacan, Jung. Segue o link:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLKQTT6Hd8z-Ct2U7PMIIQkmFMX2TBZGD7



Att, Pedro Possidonio
Psicólogo e Terapeuta
Atendimento presencial e online
WhatsApp (85) 99688.8876

sábado, 2 de maio de 2020

Acolher o que mais incomoda no outro



Muitos de nós vivemos a experiência de ter uma pessoa muito próxima que é para nós um grande desafio, seja o pai ou seja a mãe, um irmão ou outro alguém que tenha feito parte de nossas vidas. Esta pessoa é quase como se fosse um treinamento interior para extrair o nosso melhor. É como se a sabedoria da vida nos tivesse destinado este professor, e esta pessoa, ao nos machucar, nos preparasse para os desafios do mundo, para a dureza da realidade Num primeiro momento temos o confronto psicológico com a sombra, temos projetado no outro tudo aquilo que existe de pior na humanidade. Mas vale lembrar que todos os sentimentos humanos nos pertencem, trazemos em nós, como dizia o poeta, todos os sentimentos do mundo.

Além de aprender a silenciar, acho importante aprender a acolher no nosso coração a humanidade dessa pessoa, acolher os defeitos e os sentimentos ruins que evocam de em nós. Assim, aprendemos a acolher nossa própria sombra. Vou me concentrar, a quem interessar possa, nas figuras de pai e mãe. Cobramos do pai e da mãe, por exemplo, que eles sejam perfeitos, temos dificuldade em ver o ser humano real que está ali diante de nós, com sua história, suas dificuldades, seus limites. Mas uma chave secreta sobre essa questão é que nossa fidelidade Inconsciente a eles está sempre presente. Dizendo de outra forma, na nossa criança interior sempre somos fiéis a nossos pais e os amamos, e quando nossa mente os rejeita acabamos por rejeitar a nós mesmos, ou seja, passamos a nos amar menos, e criamos sofrimento e sintomas para nós mesmos. 

Ao acolher o pai e a mãe, acolhemos uma parte nossa que aprendemos a renegar, a desamar. Assim podemos nos tornar mais inteiros na jornada de aprender a amar, aprender a ser. Ao acolher nossa sombra, o que existe de pior em nós e no outro, temos uma oportunidade de fazer uma escolha ao invés de sermos condenados à compulsão, ao sintoma, ao adoecimento.




Att, Pedro Possidonio
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