segunda-feira, 18 de maio de 2020

Morte na Psicologia Analítica

Neste tempo de pandemia, onde somos confrontados com morte e perda, me deparei num grupo com uma pergunta sobre a morte e o inconsciente coletivo de Jung.

A morte pode ser considerada um arquétipo, não tendo um conteúdo específico no inconsciente coletivo. No conceito de arquétipo de Jung, devemos imaginar uma caixa vazia, sem conteúdo, a qual será preenchida conforme cada pessoa e cada cultura. O arquétipo é uma função psíquica, uma estrutura formada ao longo da história da humanidade, que terá sua forma nas imagens e simbolismo de cada época.



Morte como putrefactio, representação da alquimia.


Nas culturas e na vida de cada um este arquétipo assume conteúdos e significados. Assim, a morte para as culturas xamânicas significava uma viagem definitiva para a nação das estrelas. Para a cultura chinesa antiga, as várias partes da alma se decompunham e cada uma tinha seu destino. Para os cristãos católicos, há um julgamento e uma seleção para paraíso, purgatório ou inferno.  Para os gregos antigos, a alma era levada pelo barqueiro Caronte, atravessando o rio da morte e indo para o Hades, submundo onde moravam as almas.

No livro arquétipos e inconsciente coletivo, Jung fala do arquétipo do renascimento, que pode ser vivido como transformação, iniciação, metempsicose, reencarnação, dentre outros. Podemos assim perceber que há uma conexão entre morte e renascimento, morte e vida. O tempo todo passamos por mortes simbólicas, por transformações que marcam cada etapa da vida.

Jung fala no Natureza da Psique que não podemos viver numa casa acreditando que ela possa cair sobre nós, e fala que em várias culturas a morte não é entendida como fim, mas como continuidade, mas ele não afirma isso categoricamente, pois se o fizesse não estaria sendo científico.

Na visão de Jung, a realidade psíquica é a única que pode ser estudada ou afirmada, não a realidade concreta, final ou objetiva. Afirmar que não existe nada depois da morte, ou afirmar que existe algo sim depois da morte são, para Jung, objetos da metafísica, expressões de fé. Mas não é possível chegar a uma verdade final absoluta e científica sobre isso. No entanto, a verdade da alma, aquilo que acreditamos no íntimo e que nos trás paz é o que deve ser observado e apontado pelo analista.


Lembro de uma senhora a qual atendi, seu filho foi encontrado morto e deram o caso como suicídio. O jovem porém, não tinha histórico psiquiátrico, não se despediu deixando uma carta, não deixou sinais. A mãe, minha cliente, teve um sonho, onde o jovem contava que não foi ele, e sim tal pessoa tinha feito isso com ele. A mãe ouviu depois, ocasionalmente, o nome desta mesma pessoa, a qual não conhecia, numa reunião de homenagens do local onde ele trabalhava. Não vem ao caso aqui falar o local.

O interessante é apontar que, após ela contar, pudemos reforçar com ela que era interessante acreditar nesse conteúdo dos sonhos, pois eles vem de uma dimensão mais profunda do nosso Ser, da nossa alma. Ao longo das sessões, ela pode elaborar o luto e encontrar paz e  aceitação da morte do filho. Vale ressaltar, por último, que este tipo de conteúdo não pode ser usado como prova por exemplo, ou como abertura de um processo de investigação. Mas acreditar na realidade psíquica trazida pelo sonho fez essa mãe se harmonizar com o destino do filho e encontrar mais paz, avançando no seu processo de equilíbrio.

São apenas algumas ideias, espero ter contribuído, não pretendo ter esgotado tudo sobre o assunto mas ficam estas Reflexões para despertar o interesse na obra Junguiana.

Para os que lêem em português posso indicar os livros A morte a luz da psicologia, de Aniela Jaffe, e Os sonhos e a morte, de Von Franz. Existe uma compilação de artigos junguianos num livro chamado Reflexões sobre a Morte no Brasil, organização de Oliveira e Callia, Ed Paulus.


Deixo também as sugestões de playlists no YouTube:





A morte nos angústia a todos, a possibilidade da perda do que para nós é objeto de afeto nos assombra, mas é possível, em alinhamento com as verdades mais profundas de nossa alma, buscar um equilíbrio e usar a morte não como inimiga, mas como fonte de sabedoria e de conexão com o Si mesmo.

Fica a mensagem final de que a morte, as perdas e transformações possam ser objetos de nossas reflexões e conscientização. Reflexões sobre o morrer são também reflexões sobre o viver uma vida significativa.


Deixe suas dúvidas e comentários. Gratidão e grande abraço.


Att, Pedro Possidonio
Psicólogo e Terapeuta

Atendimento presencial e online
(85) 99688.8876

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