sexta-feira, 17 de abril de 2020

Pulsão, Sintoma e Sublimação em Freud



Freud costumava comparar nosso aparelho psíquico com um sistema biológico. Imaginemos um aparelho biológico rudimentar: ele interage com estímulos do meio externo e emite respostas, sempre procurando a homeostase, o equilíbrio. Assim, em consequência dos diversos estímulos do ambiente, nosso aparelho psíquico vai desenvolver diversas respostas. Freud vai utilizar o termo Pulsão (Trieb) como sendo a unidade fundamental de informação nesse aparelho psíquico, o qual vai buscar o equilíbrio encaminhando as diversas pulsões para diversos caminhos.

Pulsão é algo que se formaria, para Freud, na fronteira entre o somático e o psíquico. Para ele, as pulsões são forças constantes que estão sempre empurrando nosso aparelho psíquico, isto causaria um acúmulo, uma sobre-excitação decorrente do excesso de estimulação. Essa estimulação excessiva que se acumula fera desprazer. Por outro lado, quando liberamos os estímulos pulsionais acumulados, temos o prazer em decorrência do alívio desses acúmulos.

Em um de seus importantes textos, Freud fala que o aparelho psíquico é regido por dois princípios, o Princípio do Prazer e o Princípio de Realidade. Nosso primeiro modo de funcionamento, mais essencial ou mais básico, seria conforme o Princípio de prazer: se temos fome, comemos, se temos sono, dormimos, se sentimos frio buscamos nos aquecer, é assim funcionaríamos sempre buscando aliviar os estímulos porém numa condição próxima da animalidade. Como, porém, vivemos numa condição de cultura, muitas vezes não podemos satisfazer de imediato as nossas pulsões devendo adiar o prazer imediato para o satisfazer num momento mais adequado. É o caso por exemplo quando estamos no cinema e aguardamos o final do filme para aliviar as necessidades como urina ou fome. Tudo isso é treinado durante a infância, quando na escola a criança aprende por exemplo a hora que pode ou que não pode sair da sala para usar o banheiro, e até mesmo o fato de aprender que existe um local adequado, o banheiro, para satisfazer as necessidades, já é a inscrição do cultural nos fazendo ir além da condição de animalidade.

Assim, ao aprendermos a adiar as pulsões para o momento é local mais adequados, passamos a funcionar conforme o novo Princípio de realidade, que passa a reger nossa organização psíquica em relação com o social, mas também buscando evitar o desprazer, da rejeição social por exemplo, em busca de prazeres mais elevados e social e culturalmente mais aceitos e desejados, como o caso de buscar melhores condições de higiene e de cuidado consigo.

No seu clássico livro Mal estar na civilização, Freud apresenta o outro lado desta aquisição cultural: ao reprimir as pulsões em benefício dos ganhos culturais, acumulamos uma série de sensações e sentimentos ruins aos quais Freud nomeia genericamente de Mal estar (Unbehagen).

Este mal estar que se acumula seria mais imaginar de sintomas e desequilíbrios que podemos observar nos fenômenos sociais, como o narcisismo das pequenas diferenças, onde pessoas ou grupos semelhantes passam a manifestar forte aversão irracional, como vemos na situação política em que se encontra o Brasil atual, onde grupos de classe média semelhantes de digladiam nos discursos, nas redes sociais e algumas vezes até fisicamente, infelizmente, fazendo da violência e do discurso de ódio perigosos ingredientes de nosso caldeirão civilizacional.

Precisamos agora retomar s teoria de Freud sobre as pulsões. Em seu Pulsões e seus Destinos, Freud enumera alguns dos destinos possíveis para as pulsões. O primeiro deles é quando ela atinge a sua satisfação: ao sentir fome, comemos, ao sentir cócegas, rimos. Vale ressaltar que mesmo quando uma pulsão atinge seu destino ela nunca se esvazia completamente, ou seja, a satisfação pulsional direta nunca é completa, o que caracteriza mais uma fonte de mal estar.

O segundo destino de uma pulsão é sofrer o Recalque, mais um importante pilar conceitual para Freud. Ao ser confrontada com o Princípio de realidade, uma pulsão de agressividade por exemplo é recalcada ou reprimida retornando para o Inconsciente. A marca do recalque é o esquecimento ou a não identificação por parte do eu ou ego, mas vale ressaltar que os impulsos reprimidos continuam a atuar em nosso aparelho psíquico como fatores existentes, reais, causadores de mal estar e de sintomas.

O terceiro destino possível para a pulsão é exatamente a transformação em sintoma. Os casos clássicos de Freud são exemplificados com as diversas manifestações de sintomas histéricos daquilo que ele chamava de conversão: uma forte reação emocional poderia se transformar numa dormência, numa inibição, num mal funcionamento de um órgão ou membro, dentre outros. Assim, sintomas são, para Freud, a manifestação de acúmulos emocionais negativos decorrente de experiências traumáticas, negativas, aversivas ou violentas. Através dos sintomas surge toda uma teoria das estruturas as quais não é nosso objetivo aprofundar, mas temos a título de ilustração as neuroses, psicoses e a perversão.

Finalmente, um último destino possível para as pulsões é o que Freud chamou de Sublimação. Termo originário da física indicando a passagem do estado sólido diretamente para o vapor, indica transformação, mudança de qualidade ou de estado. Freud relata que a Sublimação é a transformação de uma pulsão em um objeto que seja culturalmente ou socialmente adequado.

Assim, todos os objetos de arte como músicas, pinturas, peças de teatro, toda a literatura, poesia, contos folclóricos, a própria dedicação à ciência, ao trabalho, a arquitetura, a mecânica, a engenharia, e incluímos por nossa conta, algumas manifestações da religiosidade, tudo isso seria a transmutação dos impulsos do ser humano em objetos mais socialmente desejáveis. Tudo aquilo que tem valor para a cultura é derivado deste mecanismo que Freud nomeou Sublimação.

Queremos concluir apresentando algumas ideias do que acontece durante um processo de terapia. O primeiro elemento é um processo de conscientização do ego ou eu daqueles impulsos recalcados que podem estar sendo transformados em sintomas. Ao relembrar, falar e repetir situações traumáticas, a pessoa é capaz de fazer uma catarse, uma limpeza emocional de uma série de fatores incômodos.

Como muitas vezes não temos espaço socialmente para entrar em contato com nossos sentimentos e emoções, é comum que no processo de terapia a pessoa se dê conta de partes dessas emoções que nem sequer tinha acessado por inteiro. Ao se conscientizar e falar, aquilo que antes estava reprimido no Inconsciente pode ser limpo, esclarecido e reintegrado da consciência, processo que Freud chamava de elaboração.

Em um segundo nível, na medida em que fala, o analisando está elaborando um processo criativo no qual está presente a Sublimação, ou seja, enquanto fala o analisando está já num processo criativo, cria e expressa a si mesmo enquanto fala. O analista enquanto escuta tem o papel de fazer vir à tona o Inconsciente, dando especial atenção aos processos através dos quais o Inconsciente atravessa a consciência, nos lapsos, nos chistes e nos sonhos por exemplo, fazendo assim com que o Inconsciente se expresse e seja integrado pela consciência.


Att, Pedro Possidonio. 
Psicólogo e Terapeuta.






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