terça-feira, 28 de outubro de 2014

Viver Relacionamentos Significativos


Retomo neste texto importantes reflexões sobre os relacionamentos humanos, com o objetivo de lançar as bases para nossas reflexões sobre Ética e sobre o dar sentido aos nossos valores, aos princípios que regem nossas relações. Acredito verdadeiramente que viver relacionamentos humanos mais vivos e mais significativos seja possível. Dentro de uma visão da antropologia filosófica, a ciência, a religião, a filosofia e a arte (incluindo aqui as terapias) são os caminhos que oferecem respostas para nossa vida, respostas estas que vão crescendo em qualidade e consciência na medida em que vamos nos aprofundando em nosso desenvolvimento pessoal, aprofundarmo-nos nos nossos relacionamentos. 



Quanto mais somos verdadeiros e transparentes com nós mesmos, mas o somos com os outros. Quanto mais aprendemos a nos amar, a amar e reconhecer nosso Verdadeiro Ser, nossa essência amorosa, mais vamos encontrando pessoas, situações e relações significativas. O mundo exterior é sempre um espelho do mundo interior. Nossos valores são os filtros ou mapas através dos quais vemos o mundo e interagimos com o que está ao nosso redor.





A grande jornada interior de autoconhecimento nos ensina que somos parentes de todo o universo. Nosso Verdadeiro Ser, ou nossa essência, é uma dimensão profunda em nós que está além de nosso ego, e só pode ser descoberta e vivenciada a partir de um processo interior de auto-exploração, o qual pode acontecer através de caminhos que preencham nossa vida com significado, com a arte, com os ensinos da sabedoria perene e de todos os mestres que passaram pela Terra, com a religiosidade viva e verdadeira ou com processos terapêuticos, jornadas de autoconhecimento. Nosso papel como facilitadores, psicólogos, terapeutas é, além de estar sempre caminhando neste processo de descoberta interior, possuir a capacidade de guiar as pessoas por estes desconhecidos caminhos nas profundezas humanas. Refletir, provocar, espelhar, mobilizar, promover caminhos de cura e transformação.



Ao Encontro do Outro. Para aprendermos a viver relações significativas, primeiro devemos iniciar um processo profundo e sincero de relacionamento conosco mesmos. Explorar a escuridão interior, limpar as feridas até descobrir a dimensão mais profunda do Ser em nós, criativa, amorosa, espiritual e cósmica. A jornada tem apenas inicio, não há final, pois ao aprendermos a nos relacionar com o Ser, percebemos a Ele como sempre um Outro, um desconhecido se revelando continuamente, se recriando, se expressando criativamente, criando símbolos e metáforas, novos sentidos enfim, vivendo novas experiências como uma criança a sempre desbravar um mundo mágico, capaz de nos despertar o assombro.

Ao encontrarmos o Outro em nós, encontramos o Outro também no outro, o que é base para a Ética, a compreensão da alteridade. Ao aprendermos, aos poucos, a nos relacionar conosco, ampliando nossa consciência de nosso cosmos interior, vamos aprendendo a nos relacionar com as pessoas, e cabe a cada um em seu processo escolher o quanto quer viver relacionamentos significativos e amorosos, o quanto quer investir nesta jornada de auto-exploração interior. 


Gosto da ideia de viver uma vida com fervor, com devoção, de fazer com que cada um de nossos relacionamentos se torne sacramentado, sacralizado, sagrado, na medida em que vemos o ser divino que em cada pessoa habita, estando este mais adormecido ou mais desperto. 


A Relação Eu-Tu. Vale acrescentar a percepção da psicoterapia como uma arte do encontro humano. Entretanto este encontro, vivo e verdadeiro, acontece para além da psicoterapia. Quando duas pessoas verdadeiramente conseguem se encontrar, acolhendo sua igualdade na diversidade, a transformação, o crescimento acontece. Para falar deste tipo de relação vamos utilizar o suporte do autor e filósofo Buber. Martim Buber foi um filósofo judeu alemão que escreveu uma obra fantástica, leitura recomendada a todos: o livro "Eu e Tu", uma grande obra, um convite ao relacionamento humano vivo e verdadeiro.


Buber nos ensina que há dois tipos de relações, as relações Eu-Isso e as relações Eu-Tu. As relações Eu-Isso acontecem quando nos relacionamos com a nossa perspectiva mais categórica, classificando, rotulando, significando o mundo, as experiências e as pessoas. Acabamos por reificar ou coisificar o mundo para que ele se torne passível de um interpretação, para que nós tenhamos alguma elaboração do que foi vivido. Sem este tipo de relação, jamais nenhum conhecimento seria possível, nunca saberíamos, por exemplo, que o dedo na tomada pode nos dar choque, nem jamais teríamos descoberto a eletricidade. O problema é quando passamos a tratar as pessoas e a vida como um Isso: a vida nada mais é que Isso, seja qual for o dogma ou interpretação. E o fulano? Lá vem ele, eu já sei que ele é Isso... Perdemos a magia, o encantamento, o desconhecido do Ser que se revela na relação viva com a vida.


As relações Eu-Tu, por sua vez, acontecem quando estamos verdadeiramente abertos ao outro, ao mistério que ele pode representar... Eu-Tu é sempre um encontro, vivo, verdadeiro, significativo e transformador. Eu-Tu acontece quando não estamos julgando e rotulando, mas sim estamos abertos ao que o outro tem a dizer, a revelar, a expressar, abertos à magia do Ser e da Vida que se expressa através do outro. O mais interessante é que Buber nos trás a ideia de que Tu é sempre algo que nos faz abrir para a dimensão do encontro: assim, Tu podia ser, para o filósofo, outra pessoa, a natureza ou o sagrado.


Na vida prática... Assim, para viver nossa totalidade humana, devemos viver estas três dimensões em nós. Podemos viver a relação Eu-Tu com a natureza: viver nossa profissão, nossos projetos, nosso trabalho, nosso caminho de realização e nossa relação contemplativa com a natureza, com uma vida plena e saudável, com exercícios físicos, alimentos vívidos e em contato com a natureza como nas praias, no mar, nas serras, nas águas das cachoeiras.

Podemos viver em nós também a dimensão do Eu-Tu sagrado: descobrir o espiritual em nós, o mistério desconhecido do qual fazemos parte, o sonho, a fantasia, a meditação, a arte, a música, a filosofia perene, a poesia e a dança. Viver um relacionamento mais profundo e mais espiritual com nosso verdadeiro Ser, descobrir o que Ele quer de nós, qual é a nossa missão, qual é o Sentido, o propósito mais profundo de nossas vidas.

E podemos investir a viver, por fim, Eu-Tu na alteridade humana: amar as pessoas, viver relações significativas e construtivas, investir no desenvolvimento pessoal e de nossa capacidade de amar e de nos relacionar com mais consciência. Viver o perdão, a cura e a libertação, viver o amor e a gratidão, aprender a nos conectar com nossa essência amorosa, nosso verdadeiro eu amoroso que habita em nosso coração. 

Conclusão. Cada Outro é também um espelho, e nossas relações são um espelho de nós mesmos. Cada situação é um professor. Quanto mais avançamos na nossa jornada de realização, de nos tornar nós mesmos, mais aprendemos a interdependência sistêmica de tudo com tudo, de que eu sou conectado a todas as coisas, de que eu sou todo o universo. 

Nós não nascemos humanos, nós nos tornamos humanos; e nossa humanidade está justamente em aprendermos o caminho do relacionar consciente, viver o amor e a conexão amorosa, viver relacionamentos de crescimento, relações significativas e de qualidade quando nos seja possível. E fazer triunfar o amor, fazer florescer o amor. O amor é o que nos faz realizados!








Pedro Possidonio
pedropossidonio.psi@gmail.com

Mais informações sobre nosso trabalho em:
pedropossidonio.wix.com/terapeuta



Texto adaptado de nosso blog Templo Interior, sobre Psicologia e Espiritualidade. Aqui, revisto e atualizado para nosso blog Realização Humana.

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